Às vezes é difícil aceitar o diagnóstico de Transtorno Bipolar (TB).
O TB é uma doença crônica que se manifesta por períodos de agudização
(recorrências) com instabilidade do humor. Em tempos de relativa calmaria
ou de euforia, pode-se ter a impressão de que o problema foi “superado”, o que
é uma forma disfarçada (e poderosa!) de... não
aceitar a realidade da doença. Pode ser difícil, também, manter-se tomando medicamentos
por longo tempo, enfrentando efeitos adversos, quando tudo parece estar bem. É
quando dá vontade de “desafiar” o destino e, simplesmente, parar a medicação.
Ou então (e isso também é arriscado!) tomá-la em menor dose.
UM APRENDE COM
O OUTRO...
Algumas pessoas preferem não ler a bula do medicamento que
vão tomar, no máximo dão uma corrida de olhos; outras, só o ingerem após
meticulosa leitura; e há os que só vão procurar a bula, se aparecer algum
desconforto com o uso do remédio. Da mesma forma, as pessoas que sofrem de TB
variam quanto ao desejo de se informar sobre o assunto. Embora cada pessoa lide
de um jeito com sua doença, eu diria que é importante, sim, informar-se. Mas
não exageradamente (cuidado com o
“Dr. Google”!).
“Dr. Google”!).
Aqui somos sintéticos nas informações. Se isso fizer bem para você, informe-se mais e procure tornar-se “um especialista” em sua condição. Se surgirem dúvidas, procure esclarecê-las com seu médico. Na interação entre médico e paciente, um aprende com o outro!
Veja no youtube três filmes sobre TB, dos quais participam renomados especialistas:
Filme 1 Filme 2 Filme 3
ESTABILIZADORES DO HUMOR
No tratamento do TB usam-se drogas conhecidas como “estabilizadores do humor”. Precisam ser tomadas rotineiramente, e os benefícios só se colhem a longo prazo. É arriscado interrompê-las: estudos científicos documentam que, após seis meses da interrupção do lítio (um estabilizador de humor), a taxa de recorrência é de 50%. No TB não tratado as recorrências tendem a ficar mais freqüentes e prolongadas. Quanto mais recorrências, maior prejuízo cognitivo (atenção memória, funções executivas).
O estabilizador de humor ideal deveria evitar novos episódios de doença (depressivos ou maníacos) sem causar efeitos adversos e sem oferecer risco de induzir sintomas da polaridade oposta àquela que se procura tratar numa fase aguda. Tal medicamento ideal não existe.
No tratamento de manutenção, o lítio, o valproato e a lamotrigina são os principais agentes. Antipsicóticos (olanzapina, quetiapina, aripiprazol) vêm ganhando importância à medida que novos estudos vão sendo realizados. A tabela abaixo contém alguns exemplos de medicamentos, enfatizando os efeitos adversos mais freqüentes e os controles periódicos recomendáveis. Alguns efeitos adversos podem ser contornados. Se for preciso, um medicamento mais tolerável poderá ser adotado.
Lítio
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Valproato
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Lamotrigina
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Quetiapina
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Olanzapina
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Efeitos adversos mais freqüentes
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Náusea, vômitos
Tremores
Aumento da sede
Ganho de peso
Hipotireoidismo
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Náusea, diarréia Empachamento
Ganho de peso
Sedação
Queda de cabelo
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Reação alérgica
Náusea
Cefaléia
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Sonolência
Ganho de peso
Hipotensão
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Sonolência
Ganho de peso
Elevação de triglicérides e de colesterol
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Controles periódicos
(semestrais, no máximo
anuais; outros exames podem ser necessários, segundo critérios clínicos)
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Litemia, TSH, cálcio, sódio, potássio,
creatinina, urina 1, eletrocardiograma
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Ácido valpróico no soro, enzimas hepáticas,
creatinina, hemograma
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Hemograma, enzimas hepáticas, creatinina
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Hemograma, glicemia,
triglicérides, colesterol, creatinina,
enzimas hepáticas, eletrocardiograma
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Hemograma, glicemia,
triglicérides, colesterol, creatinina, enzimas hepáticas,
eletrocardiograma
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ALÉM DE MEDICAMENTOS
Médico e paciente, um aprende com o outro. Vai-se fortalecendo um vínculo e um conhecimento compartilhado que ajudam a ambos. Esse conhecimento possibilita, por exemplo, a detecção dos primeiros sinais da chegada de nova fase da doença. Isso permite os necessários ajustes na medicação e, assim, procura-se evitar o agravamento do quadro clínico.
Um exemplo: em dado momento, algumas pessoas passam a se sentir tão bem que “resolvem” abandonar a medicação. Na verdade, não foi uma “resolução”, algo ponderado, mas um ato impulsivo fomentado pelas sensações de euforia, de energia e de bem-estar típicas da fase maníaca.
Então, uma regra combinada entre médico e paciente poderia ser: diante do primeiro impulso para interromper medicação, comunique seu médico! Outro exemplo de sinal inicial de fase maníaca/hipomaníaca: deixar de dormir e, mesmo assim, sentir-se bem e sem sono. Então... comunique seu médico!
A psicoterapia é importante no tratamento. Aliada à medicação, é capaz de reduzir as recorrências. A psicoterapia permite lidar melhor com a condição de ter TB, além de ser útil para melhorar as relações interpessoais e o desempenho dos papéis sociais.
Veja neste blog:
Temas relacionados ao Transtorno Afetivo Bipolar poderão ser lidos nos seguintes posts:
Sobre depressão, veja os posts:
Em outro conjunto de posts, há informações sobre como lidar com crises de pânico e insônia:
Três posts podem ser úteis para pessoas que tem o hábito de fumar:
TABAGISMO (1): NÃO CONSIGO PARAR DE FUMAR
TABAGISMO (2): HÁ REMÉDIO PARA PARAR DE FUMAR?
TABAGISMO (3): DICAS AO PARAR DE FUMAR
TABAGISMO (1): NÃO CONSIGO PARAR DE FUMAR
TABAGISMO (2): HÁ REMÉDIO PARA PARAR DE FUMAR?
TABAGISMO (3): DICAS AO PARAR DE FUMAR
Para saber mais sobre transtornos mentais e seus tratamentos, visite o blog:
[1] Entre as diretrizes mais prestigiadas encontra-se a do Canadian Network for Mood and Anxiety
Treatments (CANMAT), elaborada em colaboração com a International Society for Bipolar Disorders (ISBD), publicada em
Yathan LN et al. Bipolar Disord
2013;15(1):1-44.