O Transtorno Afetivo Bipolar envolve pelo menos três
desafios: um diagnóstico às vezes camuflado sob um quadro clínico variável, a
definição de uma estratégia terapêutica e a adesão ao tratamento. Aqui vamos
tratar de um aspecto desse último desafio: como lidar com uma pessoa que passa
por fase de aceleração do humor (chamada de mania ou hipomania, dependendo da
gravidade). Nessa circunstância, a pessoa sente-se absolutamente bem e não costuma
aceitar facilmente orientações.
Pode haver várias combinações dentre os seguintes sintomas:
Pode haver várias combinações dentre os seguintes sintomas:







“REMÉDIOS PRA
QUÊ...?! EU ME SINTO ÓTIMO!!!”
Há uma sensação de extremo bem-estar, com níveis aumentados
de energia e de agilidade mental. A vivência é de plenitude e de um nível
superior de existência. O caráter inicialmente “positivo” do afeto costuma contagiar
quem está perto (podemos achar a pessoa mais espirituosa,
hilariante). No entanto, esse quadro poderá facilmente transformar-se em hiperatividade,
implicância e irritabilidade. A pessoa
passa a dizer ou fazer “aquilo que deve ser feito”, a querer “por ordem nas
coisas”. Dois exemplos:


Geralmente, o comportamento é inadequado, sem freio nas palavras,
nos gestos e nas reações. A pessoa mantém-se intransigente quanto à necessidade
de medicação, ou à limitação temporária da liberdade pessoal acordada com o psiquiatra e familiares. São restrições comumente necessárias: sair sozinha, dirigir, trabalhar, ter acesso não supervisionado a internet ou telefone, ir a lugares com muita gente e estímulo, usar cartão de crédito, cuidar sozinha dos próprios medicamentos.
Sem tratamento adequado, o quadro se agrava e pode haver
necessidade de uma internação. Essa ocorre quando a sensação de onipotência transforma-se
numa “certeza” (delírio), acompanhada de atos desmedidos ou “defensivos” (movidos
por idéias paranóides). O risco para si ou para os outros, a exaltação
agressiva, bem como a exaustão dos cuidadores, são circunstâncias que pesam na
decisão de internação.
COMO LIDAR COM
A CRISE?
Diante
de uma pessoa com o humor acelerado, corremos o risco de ficar paralisados pela
angústia. Queremos ajudar, sem saber exatamente como agir. A seguir há algumas
recomendações que costumam ajudar a lidar com a situação.São regras gerais que
precisam ser adaptadas a contextos específicos e ao modo de ser de cada um dos
envolvidos na crise.
NÃO BATER DE
FRENTE. Confrontar, desafiar
e bater de frente não são boas estratégias! Tampouco inicie um jogo de força,
quer por raciocínio lógico, quer por ameaças e alteração do volume de voz! Não
confrontar quer dizer omitir-se e ficar calado? Não, ao contrário! Temos que
ajudar a pessoa enferma a perceber seu comportamento alterado. Há situações em
que podemos validar, total ou parcialmente, o conteúdo de uma queixa ou reivindicação,
mas, ao mesmo tempo, mostrar a forma inadequada de expressão, contrastá-la com
o modo de ser que a pessoa adotava anteriormente. Manter-se passivo ou afastar-se é fomentar na pessoa o
sentimento de onipotência.
INTERVENÇÃO VERBAL EM
DOIS TEMPOS. A intervenção em dois tempos é uma maneira de lidar com
pessoas mergulhadas numa crise e que, por isso, têm capacidade reduzida para pensar,
encontrar alternativas, ponderar. Nossa resposta a suas urgências e reivindicações
deve ter duas partes, ou “tempos”:
1 RECONHECIMENTO
Ouvir,
com respeito e atenção, as dificuldades, sentimentos e opiniões;
2 LIMITE
Estabelecer, ou
relembrar, as restrições que visam a proteção e segurança.
Problema frequente no tempo 1: Prolixidade do
paciente. Interrompa-o com firmeza, mas, ao mesmo tempo, com delicadeza e
respeito: Agora eu gostaria que você me
escutasse por um momento. Quando falar, faça-o com concisão e objetividade.
Lembre-se: não entre em disputas verbais, não altere a voz!
Problema frequente no tempo 2: Exasperação do
paciente frente ao limite. Interrompa e avise: Eu quero continuar a lhe ajudar, mas você está muito nervoso. Eu vou me
afastar um pouco para você poder se acalmar. Daqui a alguns minutos, a gente volta
a conversar. E se afaste calmamente; não pode ser com desdém, nem “pisando
duro”!
Adjetivar a imposição do limite: Não se alongue em justificativas. Seja objetivo e acrescente expressões como: por preocupação, para
proteção, circunstancial, temporário. Veja um exemplo:
[Tempo 1: reconhecimento]
“Eu
compreendo que é muito chato ser impedido de dirigir, principalmente diante dos
motivos que você me expôs e também porque sempre foi bom motorista... “
[Tempo 2: limite]
“...Por outro lado,
já conversamos sobre como está sua impulsividade. A restrição quanto a dirigir, além de temporária, é para proteger
a si próprio e também os outros. Por favor, colabore!”
REUNIÃO DE
FAMÍLIA. Organize uma reunião com as pessoas do núcleo familiar. Isso
pode ser feito no consultório de um profissional, que funcionará como
intermediador. Deve-se conversar sobre duas coisas importantes: como estão se
sentindo e quais as estratégias a serem adotadas. Essa conversa é importante,
pois nossos sentimentos, geralmente turbulentos num momento de crise, precisam
ser compartilhados e acalmados. Temos que transformar em pensamentos e em compreensão
o que nos deixa tão exasperados e confusos. Estabeleça e cumpra um tempo de
duração para essa reunião. Primeiro tempo: desabafo; segundo tempo: decisões. Ninguém
pode monopolizar; é importante todos se expressarem, inclusive os que costumam
ser mais calados. Decisões de reunião devem ser respeitadas, ninguém sozinho
pode alterá-las. Essa estratégia também costuma dar bons resultados com
equipes de cuidadores.
DIVISÃO DE TAREFAS. Todos são muito ocupados,
o que fazer? As tarefas do cuidar podem
ser divididas, de acordo com a personalidade e a disponibilidade de cada um. Idealmente,
quem dá mais limites deve ser a pessoa que consegue manter a calma e que tem alguma
ascensão sobre o paciente. Isso costuma ser mais difícil quando quem adoece é
pessoa enérgica e dominadora. Todos devem zelar pelo cumprimento das regras
estabelecidas, falar a mesma linguagem, e não se dividirem entre “maus” e “bonzinhos”.
Veja neste blog:
Temas relacionados ao Transtorno Afetivo Bipolar poderão ser lidos nos seguintes posts:
TRANSTORNO BIPOLAR: A FAMÍLIA LIDANDO COM A CRISE
Sobre depressão, veja os posts:
Para saber mais sobre transtornos mentais e seus tratamentos, visite o blog:
www.neurybotega.blogspot.com.br
Veja neste blog:
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Em outro conjunto de posts, há informações sobre como lidar com crises de pânico e insônia:
Três posts podem ser úteis para pessoas que tem o hábito de fumar:
TABAGISMO (1): NÃO CONSIGO PARAR DE FUMAR
TABAGISMO (2): HÁ REMÉDIO PARA PARAR DE FUMAR?
TABAGISMO (3): DICAS AO PARAR DE FUMAR
TABAGISMO (1): NÃO CONSIGO PARAR DE FUMAR
TABAGISMO (2): HÁ REMÉDIO PARA PARAR DE FUMAR?
TABAGISMO (3): DICAS AO PARAR DE FUMAR
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