TRANSTORNO DE PÂNICO E AGORAFOBIA

“Era um fim de semana tranqüilo, estava passeando no shopping... Então começou, e foi aumentando, eu sem entender nada do que estava acontecendo comigo... Nunca tinha sentido isso antes. O coração disparou, parecia que eu estava sumindo, meu rosto foi adormecendo, me faltava o ar... Em poucos minutos eu senti que ia perder o controle, tive a certeza de que iria morrer. A única coisa em que eu pensava era ‘alguém me leve urgente para um hospital’!.”
A CRISE, O PÂNICO...
A primeira crise pode acontecer em uma situação corriqueira, num momento de tranqüilidade. Em crises subseqüentes, podem surgir novos sintomas dentre os listados abaixo. Isso aumenta a “certeza” de que agora sim algo muito grave deve estar ocorrendo.


*        Palpitação
*        Sudorese
*        Tremor
*        Falta de ar ou sufocamento
*        Dor ou aperto no peito
*        Náusea ou desconforto abdominal
*        Tontura ou sensação de desmaio
*        Sensação de irrealidade (achar o ambiente estranho, ou sentir-se estranho)
*        Medo de morrer, de perder o controle ou de enlouquecer
*        Parestesias (sensação de anestesia ou formigamento)
*        Calafrios ou onda de calor
Passa a haver uma vigilância extremada das sensações corporais, no aguardo de sinais indicativos de uma nova crise. O tempo todo teme-se nova crise (o “medo do medo”). Novas crises, novas correrias até médicos e pronto-socorros, para ouvir uma acusação condenatória: “Seus exames estão normais, você não tem nada, é tudo coisa de sua cabeça!”. Aí vêm a vergonha e a desmoralização, e a auto-estima costuma baixar muito.
 
As crises duram, geralmente, de 5 a 20 minutos e raramente chegam a uma hora. Há casos de as crises parecerem “durar o dia todo”, num estado de temor e de hiperativação. Esta, no caso, é do sistema nervoso autônomo (= fora do controle, mesmo! Daí ser uma injustiça ficar se culpando por seu desespero!). As crises podem ser inesperadas ou desencadeadas exclusivamente por uma situação temida. Quandopassam a ocorrer com regularidade e frequência, faz-se o diagnóstico de Transtorno do Pânico (TP).
 
Muitas Teorias, Poucas Conclusões
Inúmeras teorias biológicas candidatam-se a explicar o ataque de pânico, mas os estudos científicos têm produzido achados controversos. São como peças interligadas de um quebra-cabeça que ainda não conseguimos montar:
*       Hiperatividade cerebral do locus ceruleus, modulada por noradrenalina
*       Modulação serotoninérgica desregulada
*       Hipersensibilidade dos receptores de CO2 do tronco cerebral
*       Alteração da regulação do medo condicionado, na amígdala cerebral
*       Influência genética
 
Pânico e respiração. A infusão de lactato de sódio é capaz de desencadear crises de pânico apenas em indivíduos que sofrem de TP, e não em outras pessoas. O mesmo ocorre quando se administra uma mistura de CO2 a 5% no ar ambiente. O aumento de CO2 no tronco cerebral leva à hiperventilação, que causa diminuição da circulação cerebral e, por conseguinte, tontura e sensação de irrealidade. É por isso que o treinamento da respiração é importante no tratamento do TP.
    Avelino R. Oliveira, 1995
Teorias psicológicas. De 20 a 50% das pessoas acometidas por TP tiveram, quando criança, ansiedade excessiva diante de situações de separação, como por exemplo, fobia escolar. Em alguns estudos populacionais, eventos traumáticos graves durante a infância e atitudes parentais desfavoráveis associaram-se ao TP. É comum a primeira crise de pânico relacionar-se a uma perda real ou ameaçada de um relacionamento significativo. A teoria da aprendizagem demonstra que a ansiedade é condicionada pelo medo de certos estímulos ambientais. Por exemplo, uma situação potencialmente fatal, como uma derrapagem do automóvel, é ligada à experiência de aceleração dos batimentos cardíacos e ansiedade (estímulo condicionado). Muito tempo depois, uma atividade física que provoque taquicardia poderá desencadear a resposta condicionada de ansiedade. A percepção dos batimentos cardíacos funcionará como gatilho para uma crise.
 
Em pacientes em que o TP tem um componente predominantemente biológico, a busca insistente por uma explicação psicológica (“psicologismo”), bem como a responsabilização do sujeito pelos próprios sintomas (“São coisas que você fica imaginando, a melhora só depende de você!”) são equivocadas e prejudiciais.
 
AGORAFOBIA
 
A agorafobia costuma se desenvolver em resposta aos ataques de pânico. Inclui combinação variável de medo de sair de casa, medo de ficar sozinho, medo de estar longe de casa, ou de se sentir preso e incapaz de obter ajuda (geralmente médica) rapidamente. Há piora da aflição nas circunstâncias em que fugir é mais difícil: ao usar transporte público (principalmente avião), em ambientes cheios de gente, no elevador, ao ter de esperar em fila, ao viajar para longe de casa.
 
BASES DO TRATAMENTO
 
A evolução do TP é variável, com períodos de remissão e de exacerbação. Um novo ataque pode demorar de meses a anos. Em números aproximados, 30% das pessoas se recuperam, 50% permanecem minimamente prejudicadas e 20% continuam agorafóbicas, mesmo após os ataques terem sido bloqueados.
Os medicamentos (do grupo dos antidepressivos e dos benzodiazepínicos de alta potência) geralmente bloqueiam a ocorrência de novas crises. Só que o tratamento do TP não se resume ao uso de medicamentos. Se você quiser manter sua qualidade de vida após ter passado por crises pânico, terá que batalhar e “fazer a sua parte” no tratamento. Não aguarde passivamente que apenas os remédios darão conta:
*      Inicie e mantenha atividade física regular (experimente algumas opções...)
*      Redescubra e dedique tempo a atividades que lhe proporcionam mais serenidade (por que não...?!)
*      Diariamente, pratique respiração diafragmática e exercícios de relaxamento (ver abaixo)
*      Se aconselhado por seu médico, comece uma psicoterapia

Os medicamentos são ineficazes em caso de evitação agorafóbica pronunciada, a qual pode permanecer mesmo após o controle das crises. Por isso, enfrentar as situações temidas é imprescindível para a melhora.
 
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem como foco a evitação fóbica, mas também é eficaz no controle das crises de pânico. Comprovou-se que a TCC é tão eficaz quanto medicação usada isoladamente e que seus resultados se mantêm no longo prazo (dez anos). Incluem-se nessa abordagem de psicoterapia: mudanças na rigidez dos pensamentos catastróficos (por exemplo, procurando substituir o “Eu vou morrer com esse ataque cardíaco!” para “Aí vêm os meus sintomas cardíacos querendo me assustar... Bom dia!”), treinamento da respiração (para combater a hiperventilação crônica das pessoas ansiosas), exposição aos sintomas físicos (no caso, provocados intencionalmente ou imaginados), exposição às situações temidas e treinamento de relaxamento. A TCC aumenta a chance de se continuar bem quando da retirada do medicamento antipânico.
 
Em situações de conflito significativo em relação a perdas ou separação, a psicoterapia de orientação psicanalítica é uma intervenção valiosa, mesmo imprescindível para algumas pessoas. No entanto, por se alinhar menos do que a TCC ao modelo médico, menos estudos testaram sua efetividade.
Clique em Respiração Diafragmática e em Relaxamento para obter mais informações.

Veja neste blog:

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TRANSTORNO DEPÂNICO E AGORAFOBIA                                                                                                                                     
PARA ENFRENTARO STRESS: RESPIRAÇÃO DIAFRAGMÁTICA                                                                                                  
PARA ENFRENTAR O STRESS: RELAXAMENTO PROGRESSIVO                                                                                                 

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